01 outubro 2011

O segredo de Raul

De Max Gehringer
Extraído de http://engenhariadegente.com/2011/04/o-segredo-de-raul-por-max-gehringer-2/
 Durante minha vida profissional,
 eu topei com algumas figuras
 cujo sucesso surpreende muita gente.
 Figuras sem um Vistoso currículo acadêmico,
 sem um grande diferencial técnico,
 sem muito networking ou marketing pessoal.
 Figuras como o Raul.
 Eu conheço o Raul desde os tempos da faculdade.
 Na época, nós tínhamos um colega de classe,
 o Pena, que era um gênio.
 Na hora de fazer um trabalho em grupo,
 todos nós queríamos cair no grupo do Pena,
 porque o Pena fazia tudo sozinho.
 Ele escolhia o tema, pesquisava os livros,
 redigia muito bem e ainda desenhava
 a capa do trabalho - com tinta nanquim.
 Já o Raul nem dava palpite.
 Ficava ali num canto,
Dizendo  que seu papel no grupo era um só,
apoiar o Pena.
 Qualquer coisa que o Pena precisasse,
 o Raul já estava providenciando,
 antes que o Pena concluísse a frase.
 Deu no que deu.
 O Pena se formou em primeiro lugar na nossa turma.
 E o resto de nós passou meio na carona do Pena
 - que, além de nos dar uma colher de chá
 nos trabalhos, ainda permitia
que a gente colasse dele nas provas.
 No dia da formatura, o diretor da escola chamou o Pena de
 'paradigma do estudante que enobrece  esta instituição de ensino'.
 E o Raul ali, na terceira fila, só  aplaudindo.

Dez anos depois, o Pena era a estrela da área
 de planejamento de uma multinacional.

Brilhante como sempre, ele fazia admiráveis
 projeções  estratégicas de cinco e dez anos.

E quem era o chefe do Pena?
 O Raul.
 E como é que o Raul tinha conseguido chegar àquela posição?
 Ninguém na empresa sabia explicar direito.
 O Raul vivia repetindo que tinha subordinados
 melhores do que ele, e ninguém ali parecia
discordar de tal  afirmação.

Além disso, o Raul continuava a fazer
 o que fazia na escola, ele apoiava.
 Alguém tinha um problema?
 Era só falar com o Raul que o Raul dava um  jeito.
 Meu último contato com o Raul foi há um ano.
 Ele havia sido transferido para Miami,
onde fica a sede da empresa.

Quando conversou comigo,
 o Raul disse que havia ficado surpreso com o convite.
 Porque, ali na matriz,
o mais burrinho já tinha sido astronauta.
 E eu perguntei ao Raul qual era a função dele.
 Pergunta inócua, porque eu já sabia a resposta.
 O Raul apoiava. Direcionava daqui, facilitava
 dali,  essas coisas que, na teoria, ninguém  precisaria
 mandar um brasileiro até Miami para fazer.
 Foi quando, num evento em São Paulo ,
 eu conheci o Vice-presidente de recursos
 humanos  da empresa do Raul.
 E ele me contou que o Raul tinha uma  habilidade
 de valor inestimável:...
 Ele entendia de gente.

 Entendia tanto que não se preocupava
 em ficar à sombra dos próprios subordinados
 para fazer com que eles se sentissem melhor,
 e fossem mais produtivos.
 E, para me explicar o Raul,
 o vice-presidente citou Samuel Butler,
 que eu não sei ao certo quem foi,
 mas que tem uma frase ótima:
 'Qualquer tolo pode pintar um quadro,
 mas só um gênio consegue vendê-lo'.
 Essa era a habilidade
 aparentemente simples que o Raul tinha,
 de facilitar as relações entre as pessoas.
 Perto do Raul, todo comprador normal
 se sentia um expert,
 e todo pintor comum, um gênio.
 Essa era a principal competência dele.
 'Há grandes Homens que fazem
 com que todos se sintam pequenos.
 Mas, o verdadeiro Grande Homem é aquele
 que faz com que todos se sintam Grandes.'
 

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