28 março 2010

As Plataformas Logísticas

As Plataformas Logísticas (PLs) surgiram na década de 60 na França como conseqüência do avanço dos estudos em gerenciamento de operações multimodais. O propósito inicial era reduzir o fluxo de materiais distribuído de forma desordenada pelos terminais de carga da periferia das grandes cidades.

Neste contexto, o entendimento da proposta era concentrar geograficamente organismos e empresas independentes, relacionadas com transporte de mercadorias (por exemplo, despachantes de carga, exportadores, operadores logísticos, serviços de aduana) e de serviços auxiliares (por exemplo, armazenagem, manutenção e conserto de equipamentos), possuindo, pelo menos, um terminal.

Deriva-se deste conceito a percepção das PLs como uma área delimitada em que se exercem atividades relativas ao transporte, à logística e à distribuição de mercadorias, tanto para o trânsito interno quanto para o internacional. Em muitos casos observa-se também a inclusão de bases industriais, resultando em agregação de valor aos mais diversos produtos.

A combinação ideal de multimodalidade, telemática (telecomunicações e tecnologia de informação), serviços de apoio e otimização de fretes, resultam em maior eficiência no processo e redução de custos.


Termos como inteligência logística, convergência agregada, integração de infra-estrutura e diferentes modos de transporte, fazem parte do conceito de plataformas logísticas multimodais.
Segundo a terminologia adotada pela Comissão Econômica para a Europa, as plataformas logísticas classificam-se em seis tipos, listadas a seguir em ordem decrescente de abrangência de atividades desenvolvidas e de serviços prestados:


1. Zona de Atividades Logísticas – caracterizada por estar em um centro de transporte com infra-estrutura intermodal relevante e deve ter características de atracadouro e de centro de distribuição;
2. Centro Integrado de Mercadorias – orientado a retirar o transporte rodoviário do centro das cidades para a periferia, onde existe um acesso fácil para as rodovias;
3. Centro de Serviços de Transporte e Logística – orientado para o melhoramento da competitividade logística de um setor industrial específico;
4. Plataforma Logística de Troca de Transporte – permite fracionar cargas maiores com destino ao mercado local em tamanhos compatíveis com o transporte local urbano;
5. Suporte Logístico Corporativo de Plataforma – possui instalações para distribuição de grandes empresas ou de distribuição comercial; e
6. Microplataforma Logística Urbana – permite realizar distribuição de produtos em uma zona urbana com acesso restrito (horário ou tamanho de veículos).

Uma outra forma de classificação que pode ser adotada é em subzonas, conforme as funções a serem exercidas. A saber:


1. Subzona de serviços gerais: destinada ao homem com áreas de recepção, informação, acomodação e alimentação, bancos, agência de viagens; à máquina, com áreas de estacionamento, abastecimento e reparos e, à empresa, com áreas de serviços de alfândega, administração e comunicação.
2. Subzona de transportes: que agrupa infra-estruturas de grandes eixos de transportes. É muito importante que a plataforma seja multimodal e possua terminais multimodais, integrando transporte rodoviário, ferroviário, marítimo e aéreo.
3. Subzona destinada aos operadores logísticos: dando condições de prestar serviços de fretamento, corretagem, assessoria comercial e aduaneira, aluguel de equipamentos, armazenagem, transporte e distribuição.

A análise da situação geográfica da região onde será desenvolvida a Plataforma Logística é crucial para o êxito da iniciativa. É preciso saber se a região oferece um meio social, ambiental e econômico favorável (bancos, sociedades comerciais e de negócios, atrações turísticas e culturais, hotéis, restaurantes, etc.) e também, se apresenta interligações com grandes eixos de transportes necessários para a promoção da Plataforma Logística, tais como; ligações terrestres (rodovias e ferrovias), acessos marítimos, fluviais e aéreos.

De forma crescente, a implantação das plataformas tem crescido significativamente em uma diversidade de modelos e contextos entre cidades, regiões e países.

Situação no Mundo

A França foi o país pioneiro no desenvolvimento de Plataformas Logísticas Públicas (Plateformes Logistiques Publiques) colocando, pois, a Comunidade Européia como principal referência mundial.

No atual estágio, empresas e os poderes públicos europeus estão no centro de numerosos debates, mobilizando-se para o aperfeiçoamento do modelo. Discute-se, por exemplo, a organização de parcerias para a constituição e operação das PLs, incluindo aspectos institucionais e legais, de localização e movimentação.

Há distintas estratégias de operação entre os países da Comunidade Européia, sendo comum a todos o papel dos governos como principal articulador e, em alguns casos, único operador.

Na Alemanha as plataformas (Guterverkehrszentren) são de responsabilidade das autoridades locais e regionais. Na Holanda, Bélgica e Luxemburgo o modelo de Distriport desenvolve-se em níveis de nós multimodais. No Reino Unido, a finalidade das Freight Villages é atrair financiamento para novos terminais regionais. Em Portugal, o governo quer desenvolver uma rede nacional de plataformas logísticas que se implantará em quatro níveis (plataformas logísticas de execução prioritária, integração de áreas logísticas existentes, promoção de novas áreas logísticas, implementação de uma rede de Plataformas Logísticas regionais. Na Espanha as primeiras iniciativas começaram a uns dez anos. Uma das plataformas encontra-se no Porto de Barcelona, a Zona de Atividades Logísticas (ZAL), um centro multimodal de distribuição e logística.

A ZAL foi especialmente desenvolvida para o Porto de Barcelona por oferecer muitas conexões marítimas que ligam mais de 400 portos por todo o mundo. O Porto de Barcelona é um dos principais portos para o tráfego de contêineres no Mar Mediterrâneo.

Também na Espanha, a cidade de Zaragoza acolhe uma das maiores Plataformas Logísticas da Europa, a PLAZA. Situada em uma área de 12.826.898 m2, a PLAZA é uma iniciativa governamental, sendo a gestão e a promoção de responsabilidade majoritária do Governo de Aragão e de dois maiores fundos de pensão da Espanha.

Situação no Brasil

No Brasil, as PLs ainda estão em fase inicial de implantação, estando a de maior abrangência localizada no Estado de Goiás.

O projeto entitulado Plataforma Logística Multimodal de Goiás (PLMG) será implantado numa área de 6.967.790 m2, entre o Distrito Agroindustrial de Anápolis, com 84 empresas instaladas e localizado na cidade de Anápolis, e importantes eixos para integração logística, tanto aérea quanto terrestre (rodoviário e ferroviário).

A proposta alinha-se ao conceito de uma ZAL, com o entroncamento de rodovias federais e estaduais e concentrando a distribuição regional de mercadorias, conseqüência da previsão de instalação de grandes atacadistas, tanto concentradores quanto distribuidores de mercadorias, e a presença dos terminais ferroviário e aeroviário.

A construção do conceito teve como origem as diferentes experiências internacionais de plataformas ou centros logísticos. O fundamento logístico central do empreendimento foi o atendimento das necessidades de vazão do agronegócio, base da economia do Centro-Oeste, com roteirização de cargas da região Sul para o Norte, e também do Oeste para o Leste.

Além do tratamento das mercadorias, da armazenagem e do acolhimento do pessoal em trânsito, a plataforma abrangerá todos os subconjuntos logísticos necessários para reduzir os custos com operações de movimentação. No mesmo espaço, em que serão integrados os modais aeroviário, ferroviário e rodoviário, estarão em operação o Centro de Transportes Terrestres, o Terminal Aéreo de Carga, o Terminal Ferroviário de Carga e o Pólo de Serviços e Administração. Todas essas áreas terão infra-estrutura de apoio (energia, telecomunicações e saneamento) e será possível realizar:

• Armazenagem e distribuição multi-temperatura
• Despachos aduaneiros e contratação de cargas
• Beneficiamento, processamento e embalagem de bens
• Concentração e desconcentração de cargas
• Serviços financeiros e de telecomunicações
• Montagem industrial de produtos

O governo de Goiás tem concedido incentivos fiscais para atrair parceiros nacionais e internacionais para o projeto. Além disso, criou uma empresa com o objetivo de capitalizar investimentos, sendo a participação máxima do governo do estado de até 49% do total de ações lançadas. Desta feita, almeja-se abrir espaço para uma possível parceria público-privada.

Similarmente, estão em fase de discussão os projetos de Plataforma Logística para Santos-SP, Salgueiro-PE e para o Estado do Rio Grande do Sul, mas ainda sem o efetivo aporte para o início das operações.