05 maio 2007

Por que os grupos ambientalistas estão errados sobre o ‘e-desperdício’

(http://idgnow.uol.com.br/mercado/2007/04/30/idgnoticia.2007-04-30.2791496063)
Por Mike Elgan, para o Computerworld*
Publicada em 30 de abril de 2007 às 16h00

Framingham - Autor americano chama atenção para os efeitos maléficos que a reciclagem de eletrônicos pode trazer ao meio ambiente.
Grupos de ambientalistas como Silicon Valley Toxics Coalition, Friends of the Earth e Greenpeace têm freqüentado o noticiário ultimamente reprovando os fabricantes de eletroeletrônicos em geral – e a Apple em particular – por políticas de preservação do meio ambiente consideradas equivocadas.
Eles chamam atenção para a crescente montanha de lixo tóxico entre os PCs, celulares, iPods eoutros eletrônicos e incitam o governo a criar uma regulamentação “verde”.
O problema é real e eu aplaudo estas e outras dúzias de organizações que trabalham para fazer a diferença. Mas o que elas prescrevem para o consumidor – coisas que elas querem que você e eu façamos sobre o ‘e-desperdício’ – é, na verdade, ruim para o meio ambiente. Eu lhe direi o porquê disso em um minuto.
Também vou descrever uma alternativa superior para a reciclagem que elas estimulam. Mas antes disso, vamos revisar o problema.

O problema do lixo eletrônico

A pesquisa Consumer Reports afirma que os americanos jogaram fora cerca de 3 milhões de toneladas de eletrônicos em 2003. Cerca de 700 milhões de celulares já haviam sido jogados fora em todo o mundo, dos quais 130 milhões somente em 2005.
Pior que isso, trata-se de lixo tóxico. Os antigos monitores CRT e os aparelhos televisores têm em média 6 libras de chumbo venenoso, que é a maior fonte de substâncias tóxica. A maior parte dos PCs e eletrônicos de consumo contém circuitos envoltos em metais tóxicos como cromo, zinco e níquel. Mesmo os plásticos contêm retardantes de chama tóxicos.
Um relatório recente feito por pesquisadores da Universidade da Califórnia analisou a mistura química que é depositada no meio ambiente a partir dos telefones celulares e encontrou chumbo tóxico, cobre, níquel, antimônio e zinco, todos criando sérios danos ao meio ambiente. A Consumer Reports afirma que somente 10% dos PCs descartados são reciclados “de forma responsável”.
Algo como 80% dos eletrônicos descartados são atualmente enviados a uma série de países em desenvolvimento como China, Índia e Quênia, onde a população (inclusive crianças) desmonta os eletrônicos em partes e peças.
O trabalho é perigoso e mal pago, além de ampliar em grandes proporções as ameaças à água e à poluição do solo nesses países, além da poluição do ar globalmente.
Futuras leis na maior parte dos países industrializados irão efetivamente banir essa prática. Teremos que lidar com nosso próprio problema de lixo tóxico no futuro e não simplesmente exportar o problema.

Mas o que devemos fazer sobre isso?

Organizações como The Silicon Valley Toxics Coalition, Friends of the Earth e Greenpeace impulsionam fortemente a reciclagem.
Elas querem que você participe de programas de devolução de baterias ou aparelhos antigos oferecidos pela Dell, HP e Apple ou encontre uma empresa de reciclagem a quem entregar o seu lixo eletrônico.
Essa ênfase exagerada, entretanto, na reciclagem falha ao tirar vantagem da natureza específica dos equipamentos eletrônicos. Os aparelhos são completamente diferentes de outros produtos que reciclamos. Pior que isso, forçar a reciclagem é, na verdade, prejudicial ao meio ambiente, e eu convocaria todos esses grupos a repensar sua obsessão com a reciclagem, pelo menos neste item particular.


Aqui estão cinco razões pelas quais a reciclagem de aparelhos eletrônicos é ruim para o meio ambiente:

1) A reciclagem polui. Diferentemente de outros produtos comumente recicláveis, como latas de alumínio e papel, o processo de reciclagem de eletrônicos é monstruosamente consumidor de tempo, intensivo em mão-de-obra e esbanjador. Reciclar esses aparelhos envolve testar, consertar e reutilizar, desmontar o equipamento e extrair as matérias-primas (como os metais). Cada aparelho deve ser cuidadosamente manuseado nesses processos, que quase sempre resultam em reciclagens incompletas.

2) A reciclagem não reduz a produção dos dispositivos eletrônicos. Pode dar uma sensação agradável remeter todo esse material a um centro de reciclagem, mas ao fazer isso, na verdade, está se incentivando os fabricantes a manter a produção de outros milhões de eletrônicos. Os ambientalistas deveriam estimular os consumidores a exigir que os fabricantes produzam menos, e não mais.

3) Reciclar também pode não funcionar. O processo requer sacrifício individual para o bem coletivo. Quando foi a última vez que isso funcionou? As pessoas reduzem o consumo de gás e compram carros bicombustíveis porque isso é mais barato, não porque eles queiram ajudar o ambiente (com algumas exceções).
Se os ambientalistas esperam que todos se tornem bons cidadãos, terão de esperar por um longo tempo. Eles devem educar os consumidores para que façam suas escolhas de forma a beneficiar tanto a si mesmos quanto o meio ambiente.

4) A reciclagem não melhora os produtos. Uma das grandes contribuições para o e-desperdício é evitar os produtos de má qualidade, que as pessoas descartam porque não funcionam ou elas se cansam deles. Produtos excelentes são mais desejáveis e ficam mais tempo com seus donos.

5) A reciclagem alimenta um dos maiores problemas ambientais: o armazenamento. Grupos ambientalistas estimulam a reciclagem de eletrônicos através da deposição desses dispositivos no lixo. Mas muitos compradores não o fazem. Eu penso que reciclar contribui para isso. As pessoas se sentem estranhas em jogar um celular fora e sabem que devem tentar reciclá-lo. Mas são ocupadas e adiam a iniciativa. Reciclar agora ou daqui a 10 anos, qual a diferença?
Os grupos ambientalistas deveriam estimular que esses eletrônicos saiam das garagens e cheguem às mãos de pessoas que possam usá-los antes que se tornem obsoletos.

Aqui está a solução

Estamos no momento dos ambientalistas pararem de estimular a panacéia de reciclagem e começarem a defender a prática que chamo de ‘reupgrading’ – reciclagem através do upgrade. Essa tática envolve vender os dispositivos quando eles ainda estão praticamente novos e usar o dinheiro para adquirir um aparelho melhor (usado, se possível).
A tecnologia cria o problema do lixo eletrônico e a própria tecnologia fornece a solução. Sites na web como eBay e Craigslist são ideais para comprar e vender eletrônicos usados.
Aqui estão seis razões que mostram que ‘reupgrade’ é melhor que reciclar:

1) Ele recicla os dispositivos de forma mais eficiente. Nesse processo, a energia e o trabalho são mais eficientes. Nada tem de ser processado, nem testado ou desmontado. E o reupgrade tem a vantagem da miniaturização. Celulares, câmeras digitais e media players são menores e mais baratos para transportar (do que o lixo eletrônico).

2) Ele força os fabricantes a fazer menos aparelhos. Ao comprar eletrônicos usados em massa, os consumidores vão fazer com que menos unidades de novos dispositivos sejam produzidos. Essa é a melhor coisa que podemos fazer pelo ambiente.

3) Há a vantagem do interesse próprio. Cada usuário vende seus eletrônicos para financiar sua próxima compra. Eles poderão trocar o aparelho por um mais novo com mais freqüência. Se o seu orçamento para um novo laptop é de 800 dólares, você vai preferir um modelo mais potente por um preço menor, mas usado, ou um novo com menos recursos?

4) Isso pune os fabricantes de produtos de má qualidade. Na medida em que as pessoas encontrarem mais produtos usados de melhor qualidade que alguns novos à venda, isso vai fazer com que as empresas trabalhem mais arduamente para atender o mercado. Desta forma, vai aumentar a qualidade média dos itens de cada categoria, assim como sua vida útil.

5) O processo endereça o principal problema: armazenamento. Ao vender esses dispositivos para comprar novos, você está motivado por um interesse próprio para que aquele aparelho saia de sua casa enquanto ele ainda é usável.

6) Ele pressiona os centros de reciclagem. Muitos dos dispositivos levados aos centros de reciclagem passarão a ser usados por outras pessoas em outro lugar, mas somente depois de um custoso e pouco amigável processo.

Mas o principal efeito do processo é psicológico. As pessoas têm sido condicionadas pelo marketing de que querem produtos novos. Mas parte deles está iludido – nós já estamos usando produtos usados. Operadoras já vendem celulares “recauchutados”. Freqüentemente, quando um fabricante substitui uma unidade danificada, ela lhe envia um telefone usado. Ajudaria se os ambientalistas estimulassem essa noção na população.

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