Extraído de "O Tempo", 30/05/2007 - Belo Horizonte MG. Artigo de FLÁVIO RIANI.
As transformações recentes na sociedade brasileira geram um mundo de obscuridades e de perspectivas sombrias para os jovens de hoje.
Inicialmente constata-se que os valores tradicionais de uma sociedade civilizada, que já eram frágeis em nosso país, estão num rápido processo de esgotamento. No momento em que o arcabouço institucional-jurídico do país se corrompeu, esgotouse de vez nossa chance de recuperação. Pior ainda é a transformação nociva por que passam nossas universidades e faculdades, principalmente a maioria das particulares.
Uma instituição de ensino deveria ter por objetivo primordial a transferência de conhecimento e aprendizado, num ambiente de respeito mútuo entre professores e alunos. A classe de aula deveria ser vista como um local onde os objetivos são comuns na busca de uma sociedade mais civilizada, mais esclarecida, mais educada e com uma formação acadêmica mais sólida.
A idéia deveria ser a de que, ao sair da instituição, o recém-formado estivesse imbuído desses princípios básicos, simbolicamente representados no seu diploma. Infelizmente, o quadro que se vê é desalentador. Numa boa parte dos casos, as estruturas de ofertas das instituições são precárias, com instalações físicas inadequadas e com professores desqualificados ou mal preparados para o exercício de uma profissão que requer, entre outras coisas, paixão. Ninguém consegue dar aulas se não gostar.
Por outro lado, a banalização e as facilidades do acesso aos cursos mais variados, de má qualidade, tiraram a responsabilidade do aluno bem preparado que requer o curso superior. Hoje, na maioria dos casos, grande parte dos alunos tem dificuldades com operações matemáticas simples e sequer consegue completar o raciocínio dentro de uma frase. Em duas então nem se fala.
Em função disso e da ampliação desenfreada de vagas nos cursos superiores, o ensino superior virou um comércio de um bem de qualidade inferior onde a preocupação com o ensino é apenas um detalhe sem importância.
A maioria dos alunos se engana na ilusão de que o diploma que obterão lhes servirá para alguma coisa ou para sua inserção no mercado de trabalho. Com isso sofrem aqueles professores que honestamente lutam contra essa realidade. Hoje eles sofrem ameaças e revoltas por parte de alunos, à medida que exigem um mínimo de leitura, estudo e dedicação. Que exijam a presença nas aulas então nem se fala. Aula para quê se o que o aluno quer é o diploma?
O grande problema desse processo é que ele é irreversível para o aluno. Após três ou quatro anos de curso, gastando dinheiro e tempo, ele perceberá que tudo foi em vão. E aí a sensação do tempo perdido é dolorosa. Provavelmente nesse momento ele lembrará daquele professor chato, que dava aulas, que exigia leitura e que os fazia estudar. Provavelmente se arrependerá das agressões verbais e às vezes físicas para com os professores e das vezes que ironizava seus conselhos. Aí já será um pouco tarde demais. Que sobrevivam os cursos de boa qualidade e que ainda são muitos.
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