Uma
das peculiaridades dos projetos sociais é a não-objetivação do lucro financeiro
como fim em si mesmo. É fundamental citar outras igualmente importantes, tais
como o interesse “político-eleitoral” que norteia a ação das autoridades e, por
conseguinte, a descontinuidade dos projetos.
Muitas
vezes os gestores públicos levam em conta aspectos com base na agenda
política-partidária-ideológica ao se determinar um grupo de cidadãos como os
beneficiários de um projeto social. Apesar da justificativa buscar uma
fundamentação “racional” para a elaboração e implantação de políticas públicas,
amparada por fatos objetivos, o que prevalece é o desejo eleitoreiro do gestor.
Diferentemente
da iniciativa privada, não basta resolver os problemas, caso eles surjam em
decorrência de um projeto. Há de se pensar no custo político que eles
representam para a sequência das atividades do projeto. Pelo fato do espaço
público – o ambiente no qual se desenvolve o projeto – estar articulado a
outros, as decisões requerem um olhar mais amplo do que se tem habitualmente
nas organizações que visam o lucro em primeiro plano.
Definir
“usuários” e “não-usuários” de um produto/serviço é complexo, uma vez que não
apenas o conjunto de indivíduos de uma coletividade em um determinado local é
atingido por um projeto, mas se geram “externalidades”. Este conceito
corresponde aos efeitos gerados por uma atividade que atingem terceiros, não
considerados no projeto.
Vejamos
o caso de uma cidade que decide implantar um projeto de âmbito estadual que
visa atender um segmento da população carente. Os moradores de cidades
vizinhas, em situação similar, ao perceberem que podem desfrutar dos benefícios
advindos do projeto, tendem a se deslocar para o outro município com
frequência. A externalidade corresponde à migração de pessoas de uma cidade
para outra, ensejando mais recursos para a manutenção dos serviços públicos
locais. Os reflexos são de ordens diversas: social, econômica, política,
cultural, dentre outras possíveis. Pelo fato de não discriminar os residentes
dos não-residentes, a discussão sai do mérito técnico e passa a ser centrada na
compreensão das sutilezas do fazer político.
As
incertezas existem tanto na iniciativa privada, quanto na esfera pública. A
diferença é que, nesta última, as variáveis estão interligadas a outras, às
quais, a despeito dos muitos estudos e análises, somente são percebidas após o
encerramento do projeto.
Além
dos indicadores quantitativos citados, ainda há outros que podem ser utilizados
para se avaliar o retorno (econômico-financeiro) de um projeto, mas a questão
maior a ser discutida é a interação entre os fatores, o que demanda uma maior
participação do gerente de projetos nas atividades.
Sabendo-se
que existem especificidades relacionadas as pessoas interessadas no projeto (stakeholders), usuários, não-usuários,
fornecedores, imprensa, dentre outros já comentados, o gerente precisa destinar
mais atenção ao desenvolvimento do projeto. A comunicação precisa ser mais
frequente e extensa, a fim de minimizar (não evitar ou eliminar) os efeitos
nocivos no projeto.
Comentamos
anteriormente as razões da incipiente cultura de gestão profissional de
projetos. Como existe a interveniência de variáveis alheias à vontade e ao
controle técnico, é necessária maior dedicação às atividades gerenciais,
sabendo-se que haverá perdas (em termos de prazo, modificação de escopo,
custo...) ao longo do projeto. Na terminologia dos projetos, diz-se que é o
processo incremental de
planejamento, desenvolvimento e controle das atividades.
Uma
ação crucial para projetos
desta natureza é o planejamento de riscos. Em função do exposto, afirma-se que
este é o determinante do bom desenvolvimento das atividades. Através
deste processo, estabelecem-se as definições políticas e gerenciais para se
acolher as “eventualidades”, bem como se caracterizar a tolerância e a forma de
se abordá-las diante das reservas (quantificadas diante de parâmetros
discutidos pelos participantes) provisionadas para o projeto.
Pela
experiência reconhece-se que ainda são poucos os empreendimentos no Brasil que
tiveram um aprofundamento recomendado. Na prática isso pode implicar, por
exemplo, em se dispor de mais horas, ainda que não-computadas(!), para se
estudar e agir sobre os riscos do projeto.
Outra
dificuldade é a autoridade do gerente de projetos, que será discutida em outra
postagem.
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