03 julho 2006

O Sonho de John Lennon

Nos virtuosos anos setenta, o sonho de John Lennon, cantado em Imagine, antevia um mundo sem fronteiras, onde a humanidade se abraçava numa irmandade de almas, vivendo o dia-a-dia sem preocupações. Antes de se pesar a possibilidade de, um dia, a ficção tornar-se realidade, apregoavam que o sonho tinha acabado.

Por bênção, ou por uma série de fatores, que alguns chamam de destino, Lennon morreu antes da chamada Era dos Paradoxos. Tempos de mudança, tempos de resistência ao que há por vir, são as características desta última década do milênio, onde, segundo contam os estudiosos, mudanças ocorrem deixando as pessoas confusas.

Entender o ser humano, sem dúvida, é elemento-chave para se decifrar o que ocorre na sociedade. Uma supervalorização de temas como auto-ajuda e esoterismo, além de uma promessa de ênfase em desenvolvimento de pessoal, colocam o RH nas empresas como o marco da Nova Era. Duendes e Pedras da Sorte convivem pacificamente na mesa de gerentes e empresários adeptos da “heterodoxia” ... Mas, até quanto heterodoxos?

Um dos maiores desafios da década é a competitividade das empresas. Estrategicamente, foram montados planos de ação para modernizar linhas de produção, para ouvir o cliente, e para incrementar a qualidade de vida dos funcionários, agora também chamado de colaboradores. Dentro de um novo contexto, no qual a empresa deixa de ser apenas “um lugar para se ganhar a vida...“, há uma crescente mobilização para que o humano seja valorizado e reconhecido como de fundamental importância para o posicionamento no mercado.

As tendências generalistas na formação de profissionais são aceitas como modernas e atuais. Efetivamente, o sistema educacional está longe de atender a demanda por profissionais de tal competência pela incapacidade de “produção em larga escala”. A dificuldade de se obter um profissional com “formação e visão futurista, aliados a uma sólida experiência” é algo, no mínimo, destoante do que se tem lançado dia-a-dia no mercado de trabalho, como dizem os recrutadores. A educação formal, por si só, já não representa aval para aferição de desempenho de profissionais, principalmente numa economia como a nossa.

A geração Baby Busters - pessoas nascidas entre 1965 e 75-, chega ao mercado sabendo das qualificações desejadas pelos setores de RH. Diante de afiados head-hunters, as empresas têm, a duras penas, contratado novos valores. Porém, as propostas de emprego nem sempre estão no mesmo tom das exigências do mercado, pondo de lado preparo técnico obtido em cursos profissionalizantes.

As alardeadas mudanças na ordem mundial assustam aos mentores e executores da realidade sócio-econômica deste fim de século. Nem todos foram preparados ou se sentem à vontade para viver no limite da incerteza. A dúvida é reconhecer a perspectiva de futuro que se tem para viver, estudar e trabalhar no presente, única concreta dimensão.

O sonho de Lennon, perpetuado pela poesia, é a metáfora de transformação de gerações que souberam se desenvolver em períodos de crises e revigoramento contínuo.

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